O Brasil, assim como muitos outros países, enfrenta um desafio preocupante em relação à discriminação contra pessoas idosas. Esse fenômeno é conhecido como etarismo (ou ageísmo) e é evidente tanto no mercado de trabalho quanto nas interações cotidianas, inclusive no ambiente digital.
No entanto, é essencial conscientizar a população sobre os direitos das pessoas com mais idade e promover uma mudança cultural que valorize e respeite essa parcela tão importante da sociedade.
Neste artigo, discutiremos o ageísmo no país, o que diz a legislação atual e forneceremos conselhos práticos para combater essa forma de discriminação, além de entender o que é etarismo no Brasil. Boa leitura!
O que é o Etarismo?
O etarismo, também conhecido como ageísmo ou idadismo, envolve estereótipos e uma visão preconceituosa em relação as pessoas. Ele se refere a discriminação e preconceito às pessoas com base em sua idade, contribuindo para a segregação da população com base em padrões sociais estabelecidos na sociedade, como a valorização da produtividade e da juventude, bem como o acesso desigual às novas tecnologias.
É uma forma de discriminação que se baseia na ideia de que a idade avançada é um fator negativo ou inferior, levando a estereótipos negativos, tratamento injusto e exclusão social.
O etarismo pode se manifestar de várias maneiras, tanto em níveis individuais quanto estruturais. No nível individual, pode ocorrer por meio de comentários depreciativos, ridicularização, marginalização ou tratamento desrespeitoso em relação a pessoas mais velhas. Isso pode acontecer em ambientes pessoais, sociais ou profissionais, incluindo interações cotidianas, no mercado de trabalho, nos serviços de saúde e na mídia.
Em níveis estruturais, o etarismo se reflete em políticas, práticas e normas sociais que limitam ou negam oportunidades e direitos às pessoas idosas. Isso pode incluir a falta de acessibilidade em espaços públicos, discriminação no mercado de trabalho, estereótipos negativos nas representações midiáticas, falta de cuidados de saúde adequados e restrições nas esferas política e cultural.
O etarismo é um problema estrutural e compreenda diversas áreas da sociedade.O etarismo é prejudicial não apenas para as pessoas idosas, mas também para a sociedade como um todo. Ele perpetua estereótipos negativos, impede a participação ativa e produtiva das pessoas mais velhas e contribui para a exclusão social e o isolamento.
Além disso, limita o acesso a valiosas contribuições e experiências que as pessoas idosas podem oferecer em diversas áreas da vida.
Com o envelhecimento da população e o crescente investimento em qualidade de vida, muitos países ao redor do mundo estão lidando com a produtividade, vitalidade e alegria da Terceira Idade em diversos espaços e profissões. Ainda assim, o preconceito social segue crescendo e se disseminando na sociedade.
O Etarismo no Brasil
Infelizmente, o preconceito etário é uma realidade presente em diversos aspectos da vida das pessoas com mais idade no país. O cenário brasileiro é marcado por um rápido envelhecimento populacional que a cultura corporativa e social ainda não acompanhou.
De acordo com o Censo 2022 do IBGE, o total de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil chegou a 32,1 milhões, representando 15,6% da população — um crescimento de 56% em relação a 2010.
Apesar de sermos uma nação que envelhece a passos largos, os dados sobre a discriminação são alarmantes. Segundo o Relatório Global sobre Idadismo da OMS, uma em cada duas pessoas no mundo é etarista contra os mais velhos.
No Brasil, o Disque 100 (Disque Direitos Humanos) frequentemente registra milhares de denúncias anuais relacionadas à violência contra o idoso, sendo que a negligência e a violência psicológica, muitas vezes fruto do preconceito, lideram as queixas.
No mercado de trabalho, a situação é crítica. Uma pesquisa da consultoria Robert Half indicou que 69% das empresas brasileiras admitem que a idade é um fator que dificulta a contratação.
Isso ocorre apesar das evidências de que profissionais maduros trazem estabilidade emocional, baixa rotatividade e um vasto repertório de competências. Essa exclusão ignora o potencial da chamada Economia Prateada, que movimenta cerca de R$ 2 trilhões anualmente no país, mas que ainda se sente “invisível” para as marcas e recrutadores.
Essa barreira invisível força muitos brasileiros a buscarem o empreendedorismo por necessidade ou aceitarem cargos com remuneração muito abaixo de sua qualificação. Portanto, compreender o que é etarismo no Brasil exige olhar para além das ofensas diretas, percebendo como a estrutura econômica descarta talentos que ainda possuem décadas de vitalidade produtiva pela frente.
Etarismo é crime?
A Lei 10.741/2003, também conhecida como Estatuto do Idoso, em seu artigo 96, descreve o delito de discriminação contra a pessoa idosa. A pena prevista é de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa. Se a pessoa que cometer o crime for responsável pela vítima, a pena será aumentada em até 1/3.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou responsabilidade do agente.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo.
O crime de etarismo está previsto no Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003).Mas é só com pessoas idosas?
Não. Os preconceitos podem afetar tanto os jovens quanto os mais velhos. De acordo com uma pesquisa, 73% dos profissionais das gerações Y (nascidos entre 1980 e 1989) e Z (nascidos entre 1990 e 2010) sentem que são subestimados devido à sua idade mais jovem.
Por outro lado, 66% dos profissionais da geração X (nascidos entre meados da década de 1960 até 1979) sentem que os mais jovens duvidam de seu profissionalismo. Esses dados ilustram como os estereótipos etários podem afetar diferentes faixas etárias no ambiente de trabalho.
No caso citado, a universitária Patrícia Linares, 45, registrou um boletim de ocorrência por injúria e difamação contra três jovens que gravaram um vídeo e publicaram em uma rede social, praticando discriminação etária contra ela.
Um documento foi registrado na Delegacia de Bauru, localizada no interior de São Paulo. No documento, Patrícia relata ter sido intensamente insultada e ainda sofrer as consequências do ataque realizado por três estudantes universitárias, que teriam perturbado significativamente sua vida.
Agora, há um prazo de seis meses para a apresentação de uma queixa-crime. No vídeo divulgado, onde acontece o crime, uma das jovens ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Em seguida, outra diz: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, declara uma terceira.
Causas do etarismo
Para combater efetivamente o desrespeito e outras faixas etárias, é crucial entender a fundo as causas do etarismo na sociedade moderna. Este fenômeno não é apenas resultado de atitudes individuais, mas está profundamente enraizado em estruturas culturais, econômicas e midiáticas.
A primeira reside na cultura da produtividade. Nas sociedades capitalistas ocidentais, a identidade e o valor de um indivíduo estão frequentemente atrelados à sua capacidade de produzir e consumir. A juventude é valorizada como o auge dessa capacidade, enquanto a velhice é associada, de forma equivocada, à estagnação, à baixa produtividade e à dependência. Essa mentalidade cria um ciclo vicioso de exclusão no mercado de trabalho.
Em segundo lugar, a representação midiática distorcida é uma das principais causas. Pessoas com mais idade são frequentemente retratadas como frágeis, obsoletas, com dificuldades tecnológicas ou, no extremo oposto, como “vovôs e vovós” que vivem apenas para o lazer, ignorando a vasta diversidade de experiências e atuações profissionais dessa população.
Essa sub-representação ou representação estereotipada reforça a ideia de que a pessoa mais velha é socialmente irrelevante ou “invisível” após certa idade.
Enraizado na sociedade, o ageísmo pode ser compreendido sob diversas causas.Por fim, a revolução tecnológica e o ritmo acelerado da inovação se tornaram novas causas do etarismo. Há um estereótipo generalizado de que pessoas mais velhas são “analfabetas digitais”, o que justifica a exclusão em processos seletivos e a falta de investimento em capacitação. Esse preconceito é desmentido pelo crescente número de brasileiros mais velhos que utilizam ativamente a internet e as redes sociais.
Entender três das principais causas do etarismo – cultura da produtividade, estereótipos midiáticos e exclusão digital – é o primeiro passo para criar políticas públicas e corporativas de inclusão efetivas.
É fundamental compreender quando o termo etarismo é utilizado e que ele se aplica a toda e qualquer discriminação baseada na idade, afetando tanto o jovem quanto o profissional mais experiente.
Preconceito contra jovens (etarismo invertido)
O preconceito direcionado a jovens é frequentemente manifestado no mercado de trabalho pela subestimação de suas habilidades. Profissionais da Geração Z (nascidos após 1996), por exemplo, podem ser vistos como inexperientes, imaturos ou pouco comprometidos, apesar de trazerem conhecimentos tecnológicos e perspectivas inovadoras.
A frase quando o termo etarismo é utilizado abrange o momento em que um jovem é negado a uma posição de liderança unicamente por sua idade, independentemente de sua competência.
Preconceito contra a meia-idade
Outra manifestação comum do ageísmo ocorre na faixa dos 40 a 55 anos. Esses profissionais enfrentam o “dilema da idade”, onde são considerados caros demais ou próximos da aposentadoria para serem contratados ou treinados em novas tecnologias.
O problema nesse grupo leva à demissão silenciosa e à dificuldade de recolocação, ignorando que essa faixa etária detém a maior experiência gerencial e conhecimento de mercado consolidado. O fenômeno, em suas múltiplas facetas, exige uma resposta jurídica robusta que vá além da proteção primária do idoso.
O etarismo e o estatuto do idoso
A lei detalha especificamente a punição para atos de discriminação. O Estatuto do Idoso, em seu artigo 96, descreve o delito de discriminação contra a pessoa com 60 anos ou mais. A legislação prevê que “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade”, é passível de pena.
A pena prevista é de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa. No parágrafo 1º do mesmo artigo, a lei é ampliada, penalizando quem “desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por qualquer motivo”.
Este detalhamento reforça o compromisso do Estado em proteger a dignidade da pessoa mais velha. No entanto, o Estatuto tem o escopo limitado a partir dos 60 anos, o que levou a propostas recentes de ampliação da proteção contra o ageísmo para todas as idades, como no caso da estudante de 45 anos.
O artigo 96 do Estatuto do Idoso prevê punição para atos de discriminação.Fui vítima de etarismo, e agora?
Caso seja vítima de etarismo, existem medidas que você pode adotar para lidar com essa situação:
Conscientize-se
Reconheça que o ageísmo é um problema real e que você não está sozinho(a) nessa experiência. Busque conhecimento sobre o assunto, aprendendo sobre os estereótipos e preconceitos relacionados à idade e como eles podem afetar as pessoas.
Busque apoio
Procure apoio emocional em amigos, familiares ou grupos de apoio que possam compreender e compartilhar suas vivências. Conversar com pessoas que passaram por situações semelhantes pode trazer conforto e conselhos úteis.
Denuncie
Caso enfrente etarismo no ambiente de trabalho, estudo ou em qualquer outra situação, considere denunciar a discriminação às autoridades competentes ou às instituições responsáveis. Disque 100. Isso pode envolver a apresentação de uma queixa formal na empresa, na instituição de ensino ou até mesmo em órgãos governamentais responsáveis pelos direitos humanos.
Procure aconselhamento jurídico
Se o etarismo causar danos significantes ou violações legais, consulte um advogado especializado em direitos civis ou direito do trabalho. Eles poderão fornecer orientações sobre as opções legais disponíveis e auxiliá-lo(a) a tomar as medidas adequadas.
Engaje-se em campanhas e movimentos que buscam combater o etarismo e promover igualdade de oportunidades, independentemente da idade. Se sentir confortável, compartilhe sua experiência para conscientizar outras pessoas e incentivar a mudança de atitudes.
Lembre-se de que cada situação é única, e as medidas a serem tomadas podem variar de acordo com o contexto e as leis locais. É importante cuidar do seu bem-estar emocional e buscar o suporte necessário para enfrentar o etarismo de maneira adequada.
A necessidade de provas digitais robustas
No contexto da coleta de provas em casos de etarismo digital, a vítima se depara com o desafio de documentar o crime. Comentários, vídeos e mensagens podem ser apagados ou alterados rapidamente. Por isso, a simples captura de tela não é suficiente para a validade como prova no processo judicial.
É crucial que a vítima utilize um meio de coleta de provas que preserve a cadeia de custódia, registrando os metadados técnicos da ofensa (URL, data e hora certificados, hash do conteúdo), garantindo que aquela evidência digital seja aceita na justiça. A segurança na coleta de provas é o que transforma o print frágil em uma prova documental sólida.
Se você foi vítima de etarismo e deseja registrar provas do conteúdo discriminatório, reúna tudo que puder comprovar o fato: vídeos, imagens, mensagens, e-mails, testemunhas.
Existem algumas medidas que você pode tomar para documentar e preservar as evidências digitais, que é coletar tudo por um meio de coleta de provas com validade jurídica, como é o caso da plataforma da Verifact, que registra as capturas de tela, links das publicações acessadas, data e horário do registro, além de vídeos e áudios, com indicação da origem dos conteúdos. Apenas prints podem não ser provas suficientes, pois são imagens da tela e podem ser facilmente falsificadas.
O processo é simples e pode ser feito pelo próprio usuário, direto do navegador em poucos minutos, sem a necessidade de instalar programas ou ter conhecimento técnico: basta acessar o site, escolher o ambiente (como WhatsApp Web) e seguir as instruções da plataforma.
A Verifact® é utilizada por tribunais, Ministérios Públicos e órgãos públicos em todo o Brasil, sendo reconhecida como uma alternativa prática, técnica e acessível à ata notarial. Clique no banner abaixo para entender melhor!

O combate à discriminação etária
O combate ao preconceito geracional exige uma mudança de postura ativa de toda a sociedade. No ambiente de trabalho, o primeiro passo é promover o convívio intergeracional, criando mentorias reversas onde jovens ensinam tecnologia e profissionais maduros compartilham visão estratégica. Isso quebra a barreira do desconhecimento mútuo.
Individualmente, é necessário policiar a própria linguagem. Expressões que associam idade a incapacidade ou “prazo de validade” devem ser eliminadas do cotidiano. Valorizar a trajetória alheia e entender que o envelhecimento é um processo natural e contínuo permite uma convivência mais harmônica.
Por fim, a educação é a ferramenta mais potente. Debater o tema em escolas e universidades ajuda a formar cidadãos que enxergam a idade como um dado cronológico, e não como um limitador de competência ou dignidade. Ao adotar essas práticas, construímos um futuro onde a experiência e a inovação caminham juntas, sem exclusões.
Post original: 15/06/2023. Atualizado em: 12/12/2025